Coleta de pinhão deve ser menor neste inverno

O final do outono, as festas juninas e o inverno trazem ao panorama gastronômico do Rio Grande do Sul um alimento que já foi mais farto na mesa dos gaúchos. O pinhão, semente da Araucaria angustifolia, árvore que tem nomes populares como pinheiro-do-paraná, curi e pinheiro-brasileiro, entre outros, vem tendo safras cada vez menores, segundo relata o técnico da Emater em São Francisco de Paula, Jean Carlos de Matos. A estimativa é de que a coleta deste ano fique em torno das 160 toneladas no Estado, cerca de 10 toneladas menos do que no ano passado.

O técnico explica que a variação da produção dos pinheiros de um ano para o outro é influenciada pelo ciclo da árvore, que produz muito em um ano e passa dois anos produzindo menos, e também por condições climáticas, como a arrefecimento do inverno. Mas ressalva que os números das safras são estabelecidos com base em impressões, já que não existem dados organizados sobre a atividade, eminentemente extrativista. “Não existem números de quantas pessoas coletam pinhão, se são contratadas para isso, quanto ganham para coletar. É bastante informal”, diz.

Disciplinada por portaria nacional, a coleta e comercialização do pinhão no Rio Grande do Sul começa no dia 15 de abril, quando a pinha é considerada madura e passa a cair no solo. Antes disso, aparecer com a semente em qualquer situação caracteriza crime ambiental. Desde aquela data, o produto está sendo vendido nos supermercados em média a R$ 7 o quilo, preço que deve se manter durante a safra, avalia o biólogo e professor da Universidade de Passo Fundo, Jaime Martinez, membro da Rede de Especialistas de Conservação da Natureza, entidade criada em 2014 e que é referência nacional em biodiversidade.

“O Rio Grande do Sul, já há alguns anos, vem diminuindo sua produção de pinhão, por uma razão muito simples: o desmatamento”, diz Martinez. O professor também aponta outro problema decorrente da perda gradativa das florestas de araucária, o sumiço de espécies da fauna, como o papagaio charão, que, sem ter como se alimentar, migrou para Santa Catarina, maior produtor nacional da semente.

Para Martinez, a coleta do pinhão poderia ser uma atividade muito mais lucrativa se houvesse interesse dos produtores rurais em plantar a araucária tanto para o consumo da semente quanto para preservar centenas de espécies de animais silvestres. Citando estudos que indicam que em um ano uma araucária pode produzir até 300 quilos de pinhão, o professor calcula que, com 50 árvores, sem precisar adubar ou corrigir o solo, (o produtor) já tiraria cerca de R$ 100 mil, “Seria uma excelente fonte de renda alternativa”, ensina.

Uso tem 6 mil anos no Sul

Do ponto de vista antropológico, poucos alimentos têm a relevância do pinhão. Pesquisas históricas e arqueológicas sobre as populações indígenas que viveram no planalto sul-brasileiro registram a importância do pinhão no cotidiano desses grupos ao longo dos últimos 6 mil anos. Restos de cascas de pinhões aparecem em meio aos carvões das fogueiras acesas pelos antigos habitantes das florestas de araucárias. Um depósito de restos de pinhões em meio a uma espessa camada de argila evidencia não apenas a existência do pinhão na dieta, mas também uma solução para conservá-lo durante longos períodos.

Jaime Martinez exemplifica que os índios caingangues do Rio Grande do Sul tiveram no pinhão uma importante fonte de sobrevivência durante muitos anos. “É uma proteína que a natureza entrega aos homens e aos animais há mais de 200 milhões de anos, mais antiga que a passagem dos dinossauros no nosso Estado”, destaca.

Mesmo que disponível desde o tempo das cavernas, o pinhão não perdeu em nenhum momento sua utilidade alimentar. O nutricionista Carlos Alberto Lampert Filho lembra que a semente consumida desde o período paleolítico é formada por amido, vitaminas do complexo B, cálcio, fósforo e proteínas, oferecendo nutrientes para o sistema nervoso central.

Seis a dez unidades diárias, recomenda o especialista, garantem a quantidade necessária de nutrientes para auxiliar na memória, no raciocínio e até no emagrecimento. “Mesmo sendo rico em gorduras, o consumo regular de pinhões aumenta a perda de peso, já que a semente possui ácido pinolênico, eficaz no controle do apetite, pois atua na liberação de dois hormônios supressores da fome: a colecistoquinina e a glucagonlike peptide-1”, afirma.

Lampert aponta que o pinhão pode ser consumido em sua forma tradicional, apenas cozido ou assado, ou em preparações mais sofisticadas, como a paçoca, com carne ou linguiça. “Mas é bom ficar atento para as receitas que agregam carne, embutidos e farinha, pois elevam muito o teor calórico”, adverte.

CP

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