Cidade mais \'aecista\' se define como \'pequeno paraíso italiano\' no RS

Encrustada em um dos vales da Serra do Rio Grande do Sul, Nova Pádua se converteu nessas eleições no maior reduto de apoio tucano no país. No município de 2.450 habitantes, de acordo com dados de 2010 do IBGE, Aécio Neves (PSDB) obteve no segundo turno 88,14% dos votos válidos (1.650), contra 11,86% (222) da presidente reeleita, Dilma Rousseff (PT). Além de Aécio, José Ivo Sartori, governador eleito no estado, também obteve votação recorde no local: 91,6% dos votos válidos foram para o candidato do PMDB.

A ausência de representações políticas locais do PT, a relação do governo federal com produtores no últimos 12 anos, e a visão de que Nova Pádua está fora das prioridades do Palácio do Planalto por ser \"mais rica\" pesaram, opinam moradores do município ouvidos pelo G1. Atualmente, o Bolsa Família encontra resistência entre moradores, focados no empreendedorismo.

“O pessoal aqui na cidade gosta muito de política. Quando tem debate, a cidade para tudo para assistir”, diz ao G1 Maico Morandi, de 17 anos, que trabalha em uma agência bancária na cidade. O jovem se considera um \"conservador\" e votou pela primeira vez.

A história de Nova Pádua começa em 1992, ano de emancipação do antigo distrito de Flores da Cunha, uma das cidades que se desenvolveram ao redor de Caxias do Sul com uma mesma característica: a colonização essencialmente italiana. A vida econômica de Nova Pádua também passa pela vitivinicultura, outro traço presente na Serra gaúcha. De acordo com a prefeitura, 90% do PIB local é oriundo da uva.

A pobreza praticamente inexiste em Nova Pádua. A garantia de emprego é permanente, graças às oportunidades oferecidas pelo trabalho no campo, dizem os paduenses. No centro da cidade, a limpeza das vias chama a atenção de quem está acostumado à sujeira das grandes cidades. Boa parte dos moradores vive em residências ao longo da principal rua, a Avenida dos Imigrantes, onde o asfaltamento está intacto.

Os pequenos produtores de uva, no entanto, acreditam que a situação já foi melhor. Hélio Pan, de 57 anos, é pequeno produtor da fruta e tem parreirais em um dos morros com visão panorâmica para o pequeno reduto urbano de Nova Pádua.

“O PT está sendo muito ruim para a colônia. A gente tem de tentar mudar. Do jeito que a coisa está, em 10 anos teremos que parar. Estamos ganhando limpo com o leite R$ 0,80 por litro. Não dá nem para o custo. Estamos trabalhando de graça”, lamenta.

A opinião do microempresário Valdir Bisinella, de 48 anos, é a mesma. Ele tem uma pequena metalúrgica na cidade. \"O município é agrícola, essa é a nossa renda. E na viticultura, nunca um governo deixou tanto de assessorar quem produz. Foi desastrado. Descumpriu o preço único da uva, por exemplo\".

O slogan oficial de nova Pádua está ostentado no pórtico de entrada do município: “O Pequeno Paraíso Italiano”. Uma referência, segundo os habitantes, à calmaria da cidade e a um mirante turístico do Vale do Rio das Antas. Segundo as autoridades municipais, os agricultores vêm se tornando nas últimas décadas microempresários da agroindústria, que sustenta o Produto Interno Bruto (PIB) local, com as produções de uva e hortifrutigranjeiros. A demanda de vinícolas da região dinamizou o desenvolvimento do empreendedorismo no local.

“A economia do município é próspera. Todo mundo se coloca na condição de empresário. É natural que no ramo de empresários haja um posicionamento de ser mais à direita. Não temos uma realidade de trabalhadores”, analisa o padre Mario Pasqual, que comanda a igreja de Nova Pádua, onde a fé é um dos pilares da sociedade. De acordo com o IBGE, 97,6% da população é católica.

O padre preferiu não abrir sua escolha nas urnas no domingo (26), mas se disse surpreso com a votação recorde em Aécio. “Temos alguns trabalhadores, mas eles são sazonais, vêm para a época da colheita e pronto. Eles estão em uma posição de quem é empresário. Politicamente, eles veem que a direita está ao lado dos empresário. Mas fiquei surpreso com a notícia, chamou atenção”, afirmou.

A composição política das forças locais foi outro aspecto desfavorável ao PT ao longo do pleito. A sigla não conta com vereadores eleitos. De acordo com o prefeito Itamar Bernardi (PMDB), a disputa entre peemedebistas e o PP colocam outras siglas em segundo plano, uma realidade comum na metade norte do RIo Grande do Sul.

Desde a fundação, Nova Pádua foi administrada apenas por gestões no PDT, PP e PMDB, que obteve a reeleição em 2010. No mesmo pleito, o PT se aliou ao PP e é hoje oposição na cidade. A reportagem do G1 tentou obter contato com representantes petistas de Nova Pádua, mas não obteve retorno. Dois eleitores que confirmaram ter votado em Dilma preferiram não dar entrevistas.

“A estrutura dos partidos vem de Flores da Cunha (município que Nova Pádua pertencia até 1992), que vinha de um histórico de direita. O PT, por ser um partido de esquerda, afeta nossas questões culturais, ele não consegue ter penetração entre os eleitores. E o PMDB gaúcho, pelo contrário, conseguiu isso. Aqui os filhos ainda votam pensando em quem os pais irão votar. Isso deixa a cidade mais conservadora”, avaliou o prefeito. “E o apoio incondicional do Sartori ao Aécio influenciou na votação”, completou.

Dono de uma vinícola atualmente sob dificuldades financeiras, Nivaldo Marinho, 56 anos, culpa o atual governo pela crise no setor e reclama do sistema de tributação. “Das pequenas empresas, 80% delas fecharam as portas, principalmente nos últimos três anos. E as cantinas, pela lei, não podem ser microempresas, por produzirem vinho, que alcoólico. Não podemos ser enquadrados no simples e pagar menos tributos. É uma diferença muito grande\", afirma Marinho, que também é dono de um posto de combustíveis.

\"É por isso que ocorre esse impacto na eleição. O Sartori, como se diz, é um gringo como nós. Ele entende, fala nossa língua, sabe das nossas dificuldades. A mãe dele foi agricultora, sabe o que passamos”, afirma, sobre o governador eleito.

Um dos poucos moradores que migraram para o município, a auxiliar de pedreiro Cirlei Aparecida Dias, 31 anos, deixou Francisco Beltrão, no Paraná, em busca de uma vida melhor na cidade. Ele vive há 16 anos em Nova Pádua.

“Pagam o Bolsa Família e não procuram saber se nós tivemos que pagar impostos para isso. Por isso não voto na Dilma. Não sou antipetista, depende da pessoa. Voto em quem trabalha bem”, avalia Cirlei.

Fonte: G1

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