Santa Catarina chegou a ter 51% de pontos impróprios para banho no litoral. – Foto: Foto Flavio Tin/ND

Entenda a relação da chuva com a falta de balneabilidade

O mês de dezembro de 2022 foi marcado por fortes chuvas que extrapolaram os índices previstos, trazendo à tona problemas históricos do descaso ambiental e estrutural em Santa Catarina.

Em Florianópolis, a estação de Carijós, localizada no Norte da Ilha, apontou 415 milímetros de chuva em dezembro de 2022 – sendo que a média da região para o mês, nos últimos 10 anos, é de 194mm. Outra localidade fortemente afetada foi o Vale do Itajaí.

A estação da Epagri na região mostrou que em dezembro choveu 525,6mm, sendo que a média dos anos anteriores para o mês foi de 145,4mm.

Além de todos os transtornos pontuais causados pelas chuvas, o relatório semanal do IMA/SC (Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina) chegou a mostrar 124 dos 237 pontos de coleta (51%) nas praias do litoral catarinense como impróprios para banho.

As situações mais delicadas são justamente as mais atingidas pelos temporais de dezembro – que são também alguns dos mais famosos e procurados destinos do verão em Santa Catarina. Na Capital, as praias de Canasvieiras, Ingleses, Brava, Ponta das Canas, Cachoeira do Bom Jesus e Jurerê são exemplos de locais impróprios para banho.

No Vale do Itajaí, Itapema, Porto Belo, Bombinhas e Itajaí estão fora das condições ideais, assim como os dez pontos da orla de Balneário Camboriú, que estão completamente impróprios desde novembro.


Gestores justificam “deterioração da chuva”

Em alguns pontos, as justificativas dos gestores públicos para o cenário de praias impróprias são parecidas: as fortes chuvas que atingiram o Estado no fim de ano.

Douglas Costa Beber, diretor-geral da Emasa, afirma que a falta de balneabilidade no município de Balneário Camboriú “não tem a ver com esgoto no mar”. Segundo Beber “A chuva forte lava tudo que tem. É impossível controlar. O fato da chuva forte é atípico. A chuva prevista para o mês veio em 6h de um dia”, justifica.

Ele contesta o fato das coletas do IMA ocorrerem semanalmente, mesmo em dias de chuva, alegando que esses casos “não mostram a real situação da praia”.

Já em Itapema, também no Vale, a prefeitura emitiu uma nota que afirma que “devido aos períodos chuvosos intensos no mês de dezembro, as análises de balneabilidade em vários municípios foram influenciadas, inclusive Itapema, considerando a grande quantidade de materiais e substâncias que são levadas em direção ao mar, por rios e estruturas de drenagem urbana, muitas delas com deságue na orla das praias e próximas a pontos de coleta”.

Florianópolis avalia saneamento como causa

Já na Capital, que também foi afetada por fortes chuvas em dezembro, a prefeitura explica que os locais impróprios já apresentaram melhoras nos índices a partir de janeiro, mas que eles precisam de mais semanas de análises para voltar a indicar propriedade, de acordo com as normas seguidas pelo IMA. “A culpa de praias impróprias não está no resultado, pois a coleta é consequência. Temos que atacar a causa, o saneamento. Por isso, com monitoramento mais apurado, podemos agir mais rápido, saber porque determinada praia ficou imprópria de um dia para o outro”, disse o prefeito Topázio Neto. A Prefeitura deve assinar um convênio com o IMA para ajudar no custeio do aumento de frequência.


Especialistas explicam porque a chuva não é a principal vilã

A própria resolução do Conama, obedecida pelos órgãos oficiais que atestam a balneabilidade das praias, é clara ao alertar que a chuva deteriora a qualidade das águas, e indica que os banhistas aguardem ao menos 48h para usufruí-las após um episódio de chuva.

Marlon Daniel da Silva, gerente do laboratório de análises do IMA/SC, concorda que as chuvas fortes de fato provocaram efeitos importantes. No entanto, o especialista defende o método.

“Colocam que é um ‘absurdo’ o IMA fazer coletas em dias de chuva. Só que se a gente não coletar dentro de uma frequência semanal – que é prevista pelo Conama -, não se coleta nunca. Tem que fazer um apanhado de todos os momentos possíveis. Quando chove a vida continua, as pessoas se alimentam, consomem esgoto. Não se pode coletar apenas em dia de sol de brigadeiro e mar de almirante”, diz Marlon da Silva.

Segundo a análise de Marlon e de outros pesquisadores da área, o problema no litoral catarinense é muito mais profundo do que simplesmente o excesso de chuvas.

“Quando chove, a chuva explicita o problema. Não se pode culpar a chuva, porque como já disseram, a chuva não defeca. Ela cai e cumpre seu papel. Se ela está aumentando os problemas sanitários, é porque está sendo feito algo errado. Ou não estão sendo tomadas as medidas adequadas”, afirma Leonardo Rubi Rörig, professor da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) especializado em oceanografia biológica e ecologia.

A professora de oceanografia da UFSC, Alessandra Larissa D’Oliveira, também contesta a versão. Segundo ela, afirmar que uma praia está imprópria apenas por conta de chuvas é de gerar “indignação”.

“O coliforme em água salgada morre muito rápido, poucas horas depois que ele entra. Então quando você vê que as praias estão impróprias desde dezembro, novembro, isso quer dizer que em todas essas coletas houve sinais recentes”.

Para Leonardo Rörig, os problemas do Estado envolvem falta de planejamento urbano e de investimentos “eficientes, embasados e modernos”.

“Existem inúmeras falhas, falhas em termos de ligações clandestinas, em termo de mistura de esgoto pluvial com doméstico e local, existe baixa eficiência. E nós precisamos universalizar. Antes de fazer a cidade crescer mais, que é uma extrema irresponsabilidade sanitária, nós precisamos garantir que o que tem seja saneado”, complementa.

Além disso, a professora Alessandra Larissa D’Oliveira reforça que a chuva é, e vai ser ainda mais presente no verão catarinense daqui pra frente.

“Nós temos que pensar que estamos em um cenário de mudança climática, e a chuva vai ser cada vez mais frequente. O que está faltando, no meu ponto de vista, é respeitar essas áreas que são biofiltros naturais, que são essas matas ciliares no entorno das lagoas, respeitar restingas. As construções estão em cima das areias. E ali está o esgoto, entrando na praia” aponta.

Fonte: ND MAIS

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