Rogério Ceni: ‘Aceitei pela glória, não pelo dinheiro’
“Meu coração disse que eu jamais poderia recusar essa proposta", afirmou Rogério Ceni na apresentação ao time no CT da Barra Funda.
O ex-goleiro Rogério Ceni foi apresentado ao São Paulo nesta quinta-feira, no Centro de Treinamento da Barra Funda, começando um novo ciclo em sua carreira com o desafio de treinar uma equipe pela primeira vez – logo o clube de coração, onde atuou por 25 anos, aposentando-se há cerca de um ano. Antes do início, o presidente Leco destacou o fato de o clube voltar a ter “um são-paulino” no cargo, que já foi ocupado por outros ex-jogadores e ídolos como José Poy, Dario Pereyra e Muricy Ramalho.
Rogério começou o discurso na entrevista coletiva relatando a paixão pelo São Paulo e mencionando o técnico Juan Carlos Osório, que com o ex-auxiliar Milton Cruz, foi o último com quem trabalhou e assumidamente uma inspiração como treinador. “Meu coração disse que eu jamais poderia recusar essa proposta. Como o Osorio dizia, tem coisas que você faz pelo dinheiro e outras que faz pela glória. Estou aqui pela glória”, declarou Ceni.
O ídolo do Morumbi comentou sobre a rivalidade com os outros times de São Paulo. Ele afirmou que jamais teria vontade de trabalhar com esses clubes e que não há essa possibilidade no futuro. “Primeiro que o São Paulo tem essa grandeza por causa da rivalidade que tem com Corinthians, Palmeiras e Santos. Eu não consigo me ver como treinador de um desses times. Acho que existe uma incompatibilidade e falo isso com o maior respeito pelos rivais. Espero ficar muitos anos no São Paulo”.
Rogério Ceni, que assume o São Paulo aos 43 anos, disse que além de ter aprendido no último ano com os cursos que fez na Europa, logo após a aposentadoria, ele tirou proveito e características de todos os comandantes que teve na carreira. “Aprendi com todos os técnicos que tive, se não me engano foram 23, e aprendi sobre o que devo fazer e o que não devo fazer. Além disso, conversei com muitos treinadores que enfrentei e tento tirar o máximo disso”.
As principais declarações de Rogério Ceni:
Goleiros – Acho o Denis e o Renan altamente capacitados. Falhas acontecem com todos que estão em campo. Renan teve poucas oportunidades, o Denis fez a maioria das partidas. Sei o potencial do Denis, sei o que ele pode render. Foi o goleiro que mais jogou na minha ausência. Vai ser uma disputa saudável e a vinda do Sidão vem para aumentar o nível de competitividade. Na Flórida Cup podemos testá-los.
Cursos – No segundo semestre, fui para a Inglaterra, passei aproximadamente 128 horas fazendo um curso pela federação inglesa, para aprimorar o inglês e para aproveitar o que o curso oferece. Minha intenção era fazer o Uefa B, Uefa A e depois o profissional. Mas apareceu a oportunidade, e eu decidi interromper os estudos e seguir meu coração, minha paixão. Foi um ano de muita aprendizagem, conheci vários clubes, Chelsea, West Ham, Southampton, e, por último, uma semana muito bacana com o Jorge Sampaoli, no Sevilla, onde vi uma preparação inteira. Pude assistir a vários jogos e e também tentar extrair o máximo de conhecimento da Inglaterra que para mim é o suprassumo do futebol mundial.
Importância do treinador – Não tenho como avaliar o percentual do treinador, porque nunca exerci essa função. Eu me considero uma parte do trabalho, junto com minha equipe, meus colegas. Eu acredito que o importante num ambiente de trabalho, independente da função, é que você se sinta importante. Espero ser uma peça que possa contribuir. A profissão de treinador trata da gestão de pessoas, talvez essa seja a principal função da equipe técnica, por isso, é preciso ter uma simbiose entre todas as áreas. Quando as partes caminham do mesmo jeito, tudo pode dar certo.
Jovens – Eu acredito que o investimento feito em Cotia é muito alto, nós não podemos gastar 20 milhões por ano sem aproveitar a categoria de base. Analisei as categorias sub-15 e sub-20 e vejo profissionais altamente qualificados que dão uma sustentação bacana para esses meninos. Será dado com certeza muito espaço para os meninos. Nós já temos um porcentual alto de atletas da base no time profissional, mas devemos aumentar.
Auxiliar inglês – Ele (Michael Beale) trabalhou dez anos nas categorias de jovens do Chelsea, depois no Liverpool, onde pude passar uns dias observando o treinamento dele. Ele tem uma facilidade muito grande no desenvolvimento de atletas jovens e foi nisso que pensei. Vi um cara pronto para lidar com profissionais do mais alto nível. Ele está estudando português três horas por dia e tenho certeza de que desenvolverá rapidamente. Eu sou favorável a distribuir tarefas aos outros profissionais desde que elas tenham competência. Quando um treinador trabalha de maneira centralizada, é difícil controlar tudo.
Torcida – O torcedor vai ser fundamental, principalmente neste início. Os anéis superiores deveriam ser mantidos a um preço acessível. Mais do que um time e as contratações a serem feitas, acho que a torcida terá um papel importante.
Comprometimento – Eu sempre fui muito exigente comigo mesmo, antes de ser com um companheiro. O coração e alma já estão inseridos em todos que querem ser jogador de futebol. Não tenha dúvida que eu gostaria que os meus jogadores entendessem e encarassem o futebol como eu fiz. Acho que estou aqui pelo perfil que sempre tive como jogador. Se for necessário, se sentir que está faltando dedicação, pediremos o auxílio dos psicólogos, e vamos trabalhar nisso.
Esquema – Dependo muito das peças que estarão disponíveis, mas não descarto a opção de jogar com três zagueiros. Basta que você tenha os jogadores necessários para isso. Vou me adaptar ao elenco que tiver. Minha intenção é jogar ofensivamente, com pressão alta, buscando o gol. É claro que em alguns jogos, podemos fazer ajustes diferentes. Mas vou me adaptar ao que tiver à disposição.
Fonte: VEJA
AM